Toca a campainha. Você coloca o
prato com biscoitos na mesinha de centro, levanta do sofá, vai até a porta e
olha pelo olho mágico. Reconhece que é um bem sucedido empresário, Flávio Inácio Fernandes Alcântara, e abre a porta.
Ele
entra meio que sem pedir licença, limpa o pé sujo no tapete e senta no sofá.
Reclama que você se atrasou para abrir a porta, e reclama do biscoito que pegou
sem nem ao menos você oferecer. Diz que assou demais e devia ter ficado menos
tempo no forno. Mas tudo bem, ele tem uma proposta irrecusável.
O
empresário se oferece para fazer uma festa na sua casa. Fala para você não se
preocupar com nada. Diz que ele mesmo empurra o sofá para o canto da sala e varre
a sujeira para debaixo do tapete. Você só precisa fazer uns reparos aqui e
outros ali. Trocar uns azulejos e pintar as paredes são prioridades. Você teria
uma semana.
Ele vai
cobrar convites de todos os seus amigos, mas não vai te dar nada. Ele vai
vender os comes e bebes usando a sua cozinha, e disso você também não leva
nada. Mas tudo bem, afinal ele tem uma bela reputação, conhecida por dar festas
de arromba, e você já está esperando por uma festa há muitos anos.
Você
não precisa pagar para entrar, evidente. Afinal, você é o anfitrião. É o que
você pensa.
Flávio Inácio Fernandes Alcântara tem
outros planos para você. Propõe que você trabalhe na festa, mas sem receber por
isso. Na sua própria casa, não vai poder beber nada com seus amigos, aqueles
mesmos que pagaram para estar lá. Mas você tem acesso livre por toda a
residência. Menos na piscina, que é aonde a festa pega fogo.
No final,
ele vai embora com dinheiro no bolso, e você fica com toda a sujeira pra limpar
no dia seguinte. Sua casa vai ficar destruída e desorganizada, e você não vai
ter comido nem um espetinho.
E aí,
você aceitaria essa proposta?
Se você
é voluntário para trabalhar na Copa do Mundo, você já aceitou.
Divirta-se
e não se esqueça de postar no Instagram a selfie
ao lado do Fuleco. Afinal, porque
outro motivo você participaria dessa festa?
Trabalho voluntário é louvável, e sempre será. Mas creches, escolas e hospitais públicos precisam do seu tempo mais do que a Fifa. E olha que eles nem te cobram nada.
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