Fui convidado pra um casamento muito especial, de pessoas na terceira idade. Devo admitir que nunca estive num ambiente tão contagiante. Era
doença pra tudo que é lado.
Depois de certa fase da vida as pessoas já
não podem mais viver grandes emoções, como saltar de paraquedas, surfar o
Hawaii ou assaltar um banco, mas elas podem se casar. O que é tão perigoso e emocionante quanto às outras três juntas.
Compareci num casamento de um casal lindo,
ambos com mais de 70 anos. Dona Lola e Seu Ernesto.
A lista de presentes foi deixada na Droga
Raia. Eu comprei um babador dupla face na promoção.
A dama de honra tinha 40 anos. Neta da noiva.
Senhora Yolanda, uma das madrinhas, levou 45 minutos pra atravessar a igreja. A banda tocou
Faroeste Caboclo umas três vezes. Vão levar um CD na próxima vez, e deixar no repeat. Se houver uma próxima vez.
A aliança foi esquecida porque o único
padrinho vivo tinha alzeimer. Na verdade isso foi bom porque Dona Lola tinha
Parkinson e pro Seu Ernesto colocar o anel naquele dedo ia ter que segurar com
as 2 mãos, soltando a bomba de oxigênio e caindo ali mesmo.
O buquê desmanchou com a tremedeira da noiva
e voou pétala pra tudo que é lado. Tudo bem, ninguém queria pegar mesmo.
Na saída a chuva de arroz foi substituída por
uma chuva de mingau. O mesmo foi servido na festa.
Festa aliás, bastante animada. A banda
executou clássicos modernos, como “Ronda”, “My Way”e “Love Me Tender”. Ninguém
dançou.
No lugar da gravata, o padrinho passou uma
fralda geriátrica. Saí com a pior parte dela.
Os noivos entraram num fusquinha e saíram da
igreja, ao invés de “RECÉM-CASADOS”, escreveram “NO BICO DO CORVO” no vidro de
trás.
No fim, descobri que o amor não tem idade, e
nunca o “até que a morte os separe” fez tanto sentido.
A lua de mel foi um chá na cama, um bingo e
uma companhia pra toda a vida. Ou pro que ainda resta dela.
Mais amor, menos recalque. Felicidades ao
casal.
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