segunda-feira, 5 de maio de 2014

Até que a morte os separe!



Fui convidado pra um casamento muito especial, de pessoas na terceira idade. Devo admitir que nunca estive num ambiente tão contagiante. Era doença pra tudo que é lado.

Depois de certa fase da vida as pessoas já não podem mais viver grandes emoções, como saltar de paraquedas, surfar o Hawaii ou assaltar um banco, mas elas podem se casar. O que é tão perigoso e emocionante quanto às outras três juntas.

Compareci num casamento de um casal lindo, ambos com mais de 70 anos. Dona Lola e Seu Ernesto.

A lista de presentes foi deixada na Droga Raia. Eu comprei um babador dupla face na promoção.

A dama de honra tinha 40 anos. Neta da noiva. 

Senhora Yolanda, uma das madrinhas, levou 45 minutos pra atravessar a igreja. A banda tocou Faroeste Caboclo umas três vezes. Vão levar um CD na próxima vez, e deixar no repeat. Se houver uma próxima vez.

A aliança foi esquecida porque o único padrinho vivo tinha alzeimer. Na verdade isso foi bom porque Dona Lola tinha Parkinson e pro Seu Ernesto colocar o anel naquele dedo ia ter que segurar com as 2 mãos, soltando a bomba de oxigênio e caindo ali mesmo.

O buquê desmanchou com a tremedeira da noiva e voou pétala pra tudo que é lado. Tudo bem, ninguém queria pegar mesmo.

Na saída a chuva de arroz foi substituída por uma chuva de mingau. O mesmo foi servido na festa.

Festa aliás, bastante animada. A banda executou clássicos modernos, como “Ronda”, “My Way”e “Love Me Tender”. Ninguém dançou.

No lugar da gravata, o padrinho passou uma fralda geriátrica. Saí com a pior parte dela.

Os noivos entraram num fusquinha e saíram da igreja, ao invés de “RECÉM-CASADOS”, escreveram “NO BICO DO CORVO” no vidro de trás.

No fim, descobri que o amor não tem idade, e nunca o “até que a morte os separe” fez tanto sentido.

A lua de mel foi um chá na cama, um bingo e uma companhia pra toda a vida. Ou pro que ainda resta dela.


Mais amor, menos recalque. Felicidades ao casal.



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