No dia do comediante venho
parabenizar todos os comediantes, palhaços, contadores de piadas e entusiastas
do humor.
Fazer comédia é difícil. É uma
ciência que, embora pareça exata, não é. É complexo e detalhista. Fazer chorar
até cebola faz. Rir é outra história.
Pena que a patrulha do moralismo
exacerbado vem deixando o humor brasileiro, a tempos, chato demais. Tudo é
ofensa, agressão, piada de mal gosto. Vi um vídeo da APAE, onde crianças e
jovens portadores de necessidades especiais se dirigem ao Rafinha Bastos e
pedem para que ele faça a piada que fez em seu show, na cara delas. É baixar
demais o nível. Não precisa.
A piada que ele fez foi: “Usei
uma camisinha com efeito retardante e tive que internar meu pau na APAE. Ficou
completamente retardado”.
Tá, pode ser mesmo pesado pra
quem convive com o problema, tem familiares ou amigos nessa situação. Mas foi uma
piada.
Tenho amigos que convivem com o
problema. Não viro as costas quando me deparo. Ajudo e amparo. Pra mim são
pessoas normais (e não é assim que lutam para que eles sejam tratados?) Mas dei
risada da piada. Me processem por isso. É piada, porra!
Agora metem o pau no cara, os
mesmos que tomam, sem vergonha alguma, uma vaga de deficiente no estacionamento
do shopping.
Talvez se ele não usasse o nome
da instituição a coisa seria diferente. Se ele troca a palavra APAE por “clínica”,
ninguém ia encher o saco.
Ser humorista também é falar
merda, ser mal interpretado, odiado, irreconhecível.
Li em algum lugar que ser
comediante é tipo saltar de paraquedas. Uma hora ele pode não abrir. Acredite,
ele realmente pode não abrir.
Fiz shows em que me atirei do
avião desconfiado, nervoso e com medo, mas meu paraquedas abriu e o vento
soprava muito bem. Salto e aterrissagem maravilhosas. Ser aplaudido pela defesa
da minha idéia (na maioria das vezes uma tremenda idiotice) é maravilhoso. Um
tipo diferente de orgasmo.
Mas quando o paraquedas falha o
tombo pode ser feio, e você fica com medo de sequer entrar de novo em um avião.
Aconteceu comigo em um show que
participei como convidado. O bar era ótimo, os humoristas todos eram feras e o
ambiente mais do que propício. Com
certeza o paraquedas vai abrir de novo.
Na época, tinha a estúpida
política de só apresentar textos inéditos e, se colocava na cabeça que o texto
era bom, lá ia eu de olhos fechados.
Chegando no bar logo percebi a
presença de famílias, crianças, idosos. Sabe o dia do aniversário do vô? Era
esse dia.
O texto que tinha preparado falava
sobre uma nova mania entre os jovens de ingerir bebidas alcóolicas pelo ânus
(no caso dos meninos) e pela vagina (no caso das meninas). Não era um texto
100% inédito pois já tinha experimentado a uns meses atrás em um bar no Bixiga,
e a aceitação foi boa. Mas só tinha jovens bêbados por lá.
Será que mudo? Será que os “tiozinhos” vão gostar? Vããão pô. É humor!
Devia ter trocado.
Subi no palco e fui apresentado
de forma bastante positiva pelo mestre de cerimônias: “Vou chamar aqui ele, que
tá começando a fazer stand up, riam dele... Rodrigo.... que eu não sei falar o
sobrenome!”
Não havia jeito melhor de ser
introduzido a pior apresentação da minha vida.
Minhas piadas do tipo “Cú bêbado
não tem dono”, “O Shot é na Xota” e “Não enche o cu de cerveja” me renderam
dois risos, de pura vergonha alheia, vindo de um casal que se compadeceu da
minha situação.
O ápice do pesadelo se deu quando
eu falo que, se a moda pega, os bebedouros do Shopping Frei Caneca (comumente
frequentado por homossexuais) seriam bidês.
Nessa hora eu me agacho e faço o
movimento, imitando o uso de um bidê. Foi quando eu saí do meu corpo, voei pelo
bar e pude me ver no palco, naquela posição extremamente constrangedora. As
crianças boquiabertas, as mulheres olhando o cardápio, os velhinhos me olhando
com cara feia e lá no fundo, o garçom cascando o bico. Foi o que me salvou.
Aquele garçom me deu força pra
continuar. Emendei um outro texto que fala sobre trânsito, o que me rendeu
risos verdadeiros, mas já era tarde. Quando o paraquedas abriu, eu estava a
poucos metros do chão.
Desculpe vovô, por estragar seu
aniversário.
Feliz dia
do humorista!
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