quinta-feira, 6 de março de 2014

Adoniran Barbosa e meu grupo de pagode




Como esse blog se trata praticamente de um caderno de confissões, tenho que confessar que eu já fiz parte de um grupo de pagode, na escola, aos 12 anos de idade. Pois é, enquanto meus amigos ainda começavam a fumar maconha, eu já ouvia o Katinguelê. Curtia as drogas mais pesadas.

Dizem que a maconha é a porta para as outras drogas, eu discordo: é o pagode. Tenho amigos daquela época que passaram pro sertanejo. Infelizmente acabei perdendo alguns pro funk.

Meu grupo já teve muitos nomes. Primeiro queriam colocar Consciência Negra, pois todo grupo de pagode que se preze tem que ter o “negro”, como mostra o Raça Negra, Negritude Junior, Os Morenos, Só Preto sem Preconceito (aliás este último um nome bastante contraditório, porque é Só Preto, mas sem preconceito).

Mas o meu grupo só tinha um negro, que nem era “neeeeeeeegro”, era tipo café com leite.  Na timba tinha a versão albina do Péricles, do Exaltasamba. No violão tinha um japonês, o Kiyoshi (aliás japonês só toca cavaquinho). Definitivamente o negro não se encaixava no nome.

Depois pensaram em “Feijão com arroz”. Opinei:

-        Pô galera, olha o Kiyoshi aí. E se fosse “Feijão com arroz.. de temaki”?

Não gostaram muito. No fim ficou Café com Leite mesmo. Até porque ninguém tocava porra nenhuma. 

Naquela época, o único intuito de tocar pagode na escola era pra poder comer umas menininhas. Claro que eu, como todo o grupo, não comi ninguém.

Minha permanência ali durou pouco, já que pagode é chato pra caralho. Eu preferia samba de roda, aquele de raiz, por influência do meu pai que ouvia e tocava esse samba. Noel Rosa, Bezerra da Silva, Beth Carvalho, entre outros.

Ele ouvia muito os Demônios da Garoa, e eu também gostava. Uma das características do som dos Demônios é que antes de todas as músicas tem um “lalala”, “cas cas cas”. Que porra é esse “cas cas cas”?? Uma risada? Acho que eles estavam cantando e rindo ao mesmo tempo.

Daí do nada aparece um “lararirurirurááá” (???????????).

As letras de Adoniran Barbosa falavam simplesmente sobre o cotidiano, as coisas que acontecem de verdade na vida dele, dos seus amigos e do seu bairro. Com base nisso, a gente pode já deduzir que derrubaram a maloca pra construir um prédio, a Iracema não sabia nem atravessar uma rua e o Ernesto era um filho da puta.

O Ernesto convidou a galera pra um samba, mas ele mora no Brás. Adoniran Barbosa e a galera moravam no Bixiga. Pensa no rolê que é ir do Bixiga ao Brás, da Zona Sul à Zona Norte. Eles iam de trem, no horário de pico, aquele caos. Daí eles chegam ao Brás e cadê o Ernesto? Não tá, saiu. Que filho da puta. Se vai sair, porque convida?

Eles dizem “nóis vortemo, com uma baita duma reiva, da outra veiz, nóis não vai mais”. Não vai mais?? É o mínimo. Não era mais pra falar com o Ernesto. Exclui o Ernesto do Facebook.

Daí outro dia eles encontram o Ernesto que pediu desculpas, mas eles não aceitaram. “Isso não se faz Ernesto, nóis não se importa, mais você devia ter punhado um recado na porta”. Como assim??? Nóis não se importa???

Então o fato dele te convidar e não estar em casa tá tranquilo?? O problema todo é que ele não deixou um recado na porta??? Duvido que os caras iam chegar lá, depois de 2 horas e: “pô.. o Ernesto não tá..... ahh bom, ele deixou um recado na porta, aqui olha só. Então assim tudo bem!”

“Cais cais cais cais cais cais cais...”

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