Como esse blog se trata praticamente de
um caderno de confissões, tenho que confessar que eu já fiz parte de um grupo
de pagode, na escola, aos 12 anos de idade. Pois é, enquanto meus amigos ainda começavam
a fumar maconha, eu já ouvia o Katinguelê. Curtia as drogas mais pesadas.
Dizem que a maconha é a porta para as outras
drogas, eu discordo: é o pagode. Tenho amigos daquela época que passaram pro
sertanejo. Infelizmente acabei perdendo alguns pro funk.
Meu grupo já teve muitos nomes. Primeiro queriam
colocar Consciência Negra, pois todo grupo de pagode que se preze tem que ter o
“negro”, como mostra o Raça Negra, Negritude Junior, Os Morenos, Só Preto sem
Preconceito (aliás este último um nome bastante contraditório, porque é Só
Preto, mas sem preconceito).
Mas o meu grupo só tinha um negro, que nem
era “neeeeeeeegro”, era tipo café com leite.
Na timba tinha a versão albina do Péricles, do Exaltasamba. No violão
tinha um japonês, o Kiyoshi (aliás japonês só toca cavaquinho). Definitivamente
o negro não se encaixava no nome.
Depois pensaram em “Feijão com arroz”.
Opinei:
-
Pô galera, olha o Kiyoshi aí. E se fosse “Feijão com arroz.. de
temaki”?
Não gostaram muito. No fim ficou Café com Leite mesmo. Até porque ninguém tocava porra nenhuma.
Naquela época, o único intuito de tocar
pagode na escola era pra poder comer umas menininhas. Claro que eu, como todo o
grupo, não comi ninguém.
Minha permanência ali durou pouco, já que pagode
é chato pra caralho. Eu preferia samba de roda, aquele de raiz, por influência
do meu pai que ouvia e tocava esse samba. Noel Rosa, Bezerra da Silva, Beth
Carvalho, entre outros.
Ele ouvia muito os Demônios da Garoa, e eu
também gostava. Uma das características do som dos Demônios é que antes de
todas as músicas tem um “lalala”, “cas cas cas”. Que porra é esse “cas cas cas”??
Uma risada? Acho que eles estavam cantando e rindo ao mesmo tempo.
Daí do nada aparece um “lararirurirurááá”
(???????????).
As letras de Adoniran Barbosa falavam
simplesmente sobre o cotidiano, as coisas que acontecem de verdade na vida
dele, dos seus amigos e do seu bairro. Com base nisso, a gente pode já deduzir
que derrubaram a maloca pra construir um prédio, a Iracema não sabia nem
atravessar uma rua e o Ernesto era um filho da puta.
O Ernesto convidou a galera pra um samba, mas
ele mora no Brás. Adoniran Barbosa e a galera moravam no Bixiga. Pensa no rolê
que é ir do Bixiga ao Brás, da Zona Sul à Zona Norte. Eles iam de trem, no
horário de pico, aquele caos. Daí eles chegam ao Brás e cadê o Ernesto? Não tá,
saiu. Que filho da puta. Se vai sair, porque convida?
Eles dizem “nóis vortemo, com uma baita duma
reiva, da outra veiz, nóis não vai mais”. Não vai mais?? É o mínimo. Não era
mais pra falar com o Ernesto. Exclui o Ernesto do Facebook.
Daí outro dia eles encontram o Ernesto que
pediu desculpas, mas eles não aceitaram. “Isso não se faz Ernesto, nóis não se
importa, mais você devia ter punhado um recado na porta”. Como assim??? Nóis
não se importa???
Então o fato dele te convidar e não estar em
casa tá tranquilo?? O problema todo é que ele não deixou um recado na porta???
Duvido que os caras iam chegar lá, depois de 2 horas e: “pô.. o Ernesto não
tá..... ahh bom, ele deixou um recado na porta, aqui olha só. Então assim tudo
bem!”
“Cais cais cais cais cais cais cais...”

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